segunda-feira, 21 de maio de 2007

Desaparecimento da Maddie

Olá, amiguinhos, hoje vou fazer uma transcrição de uma crónica que é publicada no Jornal "Metro", que me tocou extraordinariamente e, que, infelizmente, deve acontecer em diversas casas de famílias...


Peço desculpa aos familiares de outras crianças desaparecidas, mas, de todos os desaparecimentos, este está-me a tocar consideravelmente mais... não sei bem porquê... talvez porque Maddie tem a idade da minha sobrinha... talvez porque na altura dos outros desaparecimentos eu era bem mais nova...não sei, só sei que penso na Maddie todos os dias e no sofrimento que os pais dela devem estar a passar...

Peço desculpa ao cronista, mas a crónica desta Segunda-Feira é excelente e a transcrição que vou fazer não é com o sentido de plagiar!



"Desculpa Maddie


"A menina já apareceu". Não, não apareceu! Foi assim que respondi. Com um tom rude mas com força para acrescentar: "Mas será que todos os dias tens de perguntar a mesma coisa?" A mesma dúvida, todos os dias, dita com uma ansiedade crescente. A mesma falta de resposta.


Chega!

Desculpa Maddie, mas é que ao fim de cinco, sete dias, depois de ter passado uma, duas semanas, eu também começo a perder forças. Não sei mais o que posso dizer para consolar o meu filho. Sabes, ele não te conhece. É mais velho. Mas deve gostar muito de ti.

Todos os dias, quando acorda, pergunta-me o mesmo: " A menina já apareceu?" Mas tu não apareceste. Ainda não voltaste. Foste embora. E está toda a gente preocupada. As pessoas grandes, aquelas que todos os dias acordam e vão a correr para o trabalho. Aquelas senhoras e senhores que se fazem fortes e dizem aos filhos que um dia tu vais aparecer.

Claro que vais aparecer. Tens de aparecer. É que aqueles homens e mulheres grandes passam muitas horas a trabalhar e têm tanto em que pensar. Sâo pessoas importantes e cheias de trabalho. Sempre preocupadas com o futuro. E o presente. Hoje. Agora.

Onde estás?


Desculpa Maddie pedir-te isto, assim. Mas diz-me, o que eu hei-de dizer ao meu menino. O quê? Eu até já lhe disse: "Estás a ver como tens de ter cuidado!" Nem sei se fiz bem, mas aproveitei o teu desaparecimento para me dar razão a mim mesmo. Com um ar duro avisei-o logo: "Eu é que tenho razão quanto te digo que não deves falar com todas as pessoas na rua!" Mas ele é uma criança, ele não percebe. Ainda não entendeu que há pessoas grandes, que são más. Afinal eu também não percebo o que te aconteceu. Ninguém percebe, pelos vistos. Aqueles homens da policia que estudam muito e analisam tantas coisas, não te conseguem encontrar. E os teus pais. Os que te amam. Como estão? Afinal há homens e mulheres más. Há sim senhor. Há pessoas que não sabem o que é o amor.


Desculpa Maddie. Não sei o que lhe posso dizer. Ao meu menino. Quando o sol voltar a nascer, ele vai voltar a questionar-me: "já apareceu a menina?" Não, não apareceu! E sabes, querido, tenho medo! Tenho medo caramba! Por que é que se pode perder assim alguém que nós amamos tanto? Porquê? Desculpa estar a chorar. Mas é que eu, apesar de ser uma pessoa grande, não sei como se enfrentam estas situações. Maddie, onde quer que estejas, diz-me por favor como se faz! Onde vamos buscar as forças para viver? E se fosse o meu filho? E se eu quem estivesse à beira de desistir? Diz-me Maddie.


Desculpa. Desculpa-nos a todos. A todos nós. Quando a noite chegar vou rezar. Vou pedir muito para que apareças. Mas se ainda não for amanhã que tu regressas, quando o sol nascer, e se mais uma vez o meu querido menino perguntar por ti, questionar onde estás, eu juro que lhe vou dizer que estás com Deus. Porque onde quer que estejas, ele vai cuidar de ti."


Rui Pedro Baptista

In Metro, 21 de Maio de 2007